Ministério Público inicia maratona de interrogatórios que duram até sexta-feira, data limite dada para sair a acusação do caso. Ex-primeiro ministro é ouvido amanhã
José Sócrates inicia amanhã a maratona de interrogatórios de quase todos os arguidos da Operação Marquês até à dedução da acusação, que deverá acontecer na próxima sexta. Estas audições, que já começaram com Carlos Santos Silva, são obrigatórias por lei, dando a conhecer aos suspeitos todos os elementos recolhidos pelo Ministério Público, antes do despacho final. Assim, o antigo primeiro ministro será formalmente confrontado com as suspeitas relativas a corrupção, envolvendo os negócios da PT: a OPA falhada da SONAE, em 2007, e as operações no Brasil, em 2011.
Os factos relativos à Portugal Telecom não serão uma surpresa para o antigo primeiro-ministro, que já os foi conhecendo à medida que o processo lhe chega às mãos. Mas Sócrates terá a oportunidade de refutar no processo os dados do MP, algo que apenas fez relativamente ao Grupo Lena e ao empreendimento turístico de Vale do Lobo. Não é que as declarações do ex-primeiro ministro possam mudar o sentido da investigação mas, pelo menos, ficam registadas nos autos, podendo Sócrates ser confrontado com elas no julgamento.
O Ministério Público alega que José Sócrates foi corrompido a troco de 23 milhões de euros em três situações: dois milhões por causa do resort de Vale do Lobo; 17,5 milhões do GES e da PT e o restante a propósito do Grupo Lena. Além de Sócrates, voltarão a ser ouvidos outros arguidos, nomeadamente Sofia Fava, ex-mulher do primeiro-ministro, e Armando Vara, antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos, também suspeito de ter recebido dinheiro a troco de decisões que terão beneficiado o empreendimento turístico de Vale do Lobo.
17 de março foi o prazo dado pela Procuradora geral da República para terminar a investigação da Operação Marquês, que conta atualmente com 25 arguidos, além de Sócrates, Vara e Sofia Fava, incluindo Joaquim Barroca e Joaquim Paulo Conceição, do grupo Lena, o ex-responsável da farmacêutica Octapharma Lalanda e Castro e Diogo Gaspar Ferreira, responsável da empresa gestora do empreendimento Vale do Lobo (Algarve), Hélder Bataglia e os antigos gestores da PT Zeinal Cava e Henrique Granadeiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, também foi constituído arguido por corrupção ativa
Defesa notifica o seu cliente
O "nicho" PT surgiu na investigação depois de terem sido recolhidos dados sobre a origem de uma série de transferências entre contras offshore de Hélder Bataglia e Carlos Santos Silva. Na origem do dinheiro, apurou o MP, esteve a ES Enterprises, o chamado Saco azul do antigo Banco Espírito Santo. Batalha contou recentemente aos investigadores, que fora Ricardo Salgado quem lhe pediu para transferir o dinheiro. Versão desmentida pelo antigo banqueiro.
Ontem, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou que o ex-primeiro-ministro José Sócrates será interrogado na segunda-feira à tarde no inquérito Operação Marquês e que o empresário Carlos Santos Silva foi inquirido na sexta-feira. "Estão, ainda, previstos interrogatórios de outros arguidos no decurso da próxima semana", adianta a PGR, num esclarecimento enviado à agência Lusa.
Antes, fonte ligada ao processo dissera à Lusa que o antigo líder do PS José Sócrates, arguido no inquérito "Operação Marquês", vai ser interrogado na segunda-feira à tarde no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
Contactado pela agência Lusa, João Araújo, advogado de José Sócrates juntamente com Pedro Delille, precisou que a defesa foi notificada pelo MP para comparecer no interrogatório de segunda-feira no DCIAP, tendo o MP pedido aos advogados que notificassem o próprio ex-primeiro-ministro da diligência marcada.
José Sócrates, que esteve preso preventivamente mais de nove meses, está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.
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