quinta-feira, 13 de abril de 2017




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A viúva católica de 79 anos que provocou a denúncia contra a Cáritas

"Ela queria que fosse entregue à Cáritas – mas para chegar aos pobres", conta Zulmira Lino da Silva. "Ela" é Cândida Rodrigues Dias, que já com 101 anos se deslocou ao notário para fazer mais uma alteração ao testamento: à Caritas de Lisboa deixou um património de milhões, que inclui uma moradia em Lisboa, todo o dinheiro em duas contas bancárias em Portugal e um jazigo. Cândida Dias, ex-directora geral dos registos e notariado entre 1977 e 1981, pediu que a execução do testamento fosse fiscalizada – e Zulmira Silva tentou perceber como o dinheiro seria aplicado pela Cáritas na missão de ajuda aos pobres. "Se somos nós quem ajuda a sustentar a instituição, queremos saber se o dinheiro é bem gasto", afirma numa entrevista que pode ler em exclusivo na SÁBADO desta semana.
Zulmira pediu aos advogados que fiscalizassem as contas e a acção no terreno da Cáritas. Identificaram indícios de irregularidades, elaboraram um parecer no qual explicaram como na sua opinião a Cáritas enganava o público por não canalizar o que recebia para ajuda aos pobres – e enviaram tudo a vários bispos e outras autoridades eclesiásticas. A reacção da Igreja levou-os, entretanto, a enviar uma denúncia ao Ministério Público por fraude qualificada, onde são visados o presidente da Cáritas de Lisboa, Frias Gomes, e do ecónomo do Patriarcado, Álvaro Bizarro, uma espécie de ministro das Finanças da Igreja.
Vários elementos sobre as finanças da Cáritas Diocesana de Lisboa foram divulgados na semana passada pelo Público, incluindo depósitos bancários de 2,091 milhões de euros, mais de 300 mil euros investidos em obrigações e um lucro de 119 mil euros em 2014. D. Manuel Clemente, o cardeal Patriarca de Lisboa, negou à Renascença que haja irregularidades na Cáritas.
O mundo das entidades não lucrativas com fins sociais tem crescido sem parar: são cerca de 4.000 em Portugal, e gerecentenas de creches e lares de terceira idade. Em 2015 a Segurança Social e as Finanças transferiram, no conjunto, cerca de 1.500 milhões de euros para estas entidades a quem o Estado delega historicamente a acção social. O controlo é feito com poucos meios e os casos, muitos descobertos depois de denúncias anónimas, sucedem-se: desvios de milhões para contas pessoais, dirigentes que cobram fortunas por vagas ou falsos voluntários são  o retrato de um sector importante, mas pouco escrutinado.
Leia mais sobre o caso da Cáritas de Lisboa e sobre outros escândalos quemancharam a imagem e defraudaram as contas de instituições de solidariedade,na edição n.672 da SÁBADO, nas bancas entre 16 e 22 de Março.

Edição n.º 672
Edição n.º 672



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